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quinta-feira, 29 de novembro de 2007


Férias e afeto


Final de férias. Ao se despedirem dos monitores, crianças e jovens choravam copiosamente. A cena impressionou porque os pais não sabiam exatamente o porquê das lágrimas. Demanda de afeto?

É usual crianças e jovens passarem férias em hotéis de luxo, ou com certo luxo, quando ficam dia e noite entregues aos monitores. Esses inventam brincadeiras para todos os gostos e idades, num frenesi sem fim. Futebol, basquete, tênis, shows, ping - pong, torneios, passeios e muito mais. Claro que é ótimo que os filhos se reúnam em grupos com pessoas novas, experimentem atividades diferentes. Mas a meninada fica tão envolvida que acorda e já quer tomar café com os novos amigos. Família, nem pensar. Para muitos pais essa distância cumpre a fantasia das férias ideais: esparramam-se na areia e nas cadeiras e se entregam às delícias do mundo gourmet, bebendo e conversando sem serem incomodados pelos filhos.

As crianças e os jovens se encantam com os monitores porque estes são bem treinados e selecionados, são carinhosos - desenvolvem um jeito próprio de se comunicarem, criam apelidos, piadinhas, não brigam, não apelam e incentivam a participação, brincam sem ofender, são pacientes e compreensivos. Ou seja, lá constroem o paraíso - lugar onde o ser humano nunca é cobrado, confrontado, ameaçado ou criticado.

Mas se o dia-a-dia nas metrópoles é uma correria, férias não deveria ser oportunidade para pais e filhos se curtirem? O discurso predominante é a falta de tempo. Depois os pais reclamam - não entendem porque os filhos são frios e distantes. A boa relação se constrói dia após dia. Relacionamento aprimora-se, boa convivência é conquista eterna e árdua. Laços afetivos demandam tempo para se solidificarem. A qualidade do afeto se conquista num continuum - cotidiano que demanda presença e que não basta apenas desejar.

A máxima de dizer que o importante é a qualidade da convivência, geralmente desobriga muitos pais de se envolverem e de se implicarem na educação dos filhos. É necessário tempo para ouvir, sentir, perceber e entender o outro. A pressa, acrescida do ideal de perfeição, dificulta as relações entre pais e filhos. Cumplicidade acontece num processo afetivo e exige morosidade. É preciso descobrir formas de multiplicarmos o tempo, afinal sempre encontramos um tempo para a novela, o boteco, academias e shoppings. Já é hora de aprendermos a priorizar as tarefas e obrigações da vida, desdobrando-as de forma que o tempo chegue a todos. Conflitos e afetos se entendem, o difícil é administrar conflitos sem amor e sem disposição. Tempo, quando o desejamos, criamos. Com boa vontade, tudo será contemplado, temporalizado.

Geralmente, nos hotéis, ao passar grande parte do tempo com monitores, a garotada acaba estabelecendo vínculos afetivos. Embora frágeis e efêmeros, causam sentimento de perda quando se rompem. O choro denuncia a falta - vazio que um encontro fugaz deflagra e escancara. Todos nós demandamos afeto, carinho, gente que se interesse por nós - gostamos de ser reconhecidos, lembrados, notados. Muitas crianças são invisíveis aos olhos dos pais, contudo, aquele que chega e oferece atenção, abastece, conforta - promessa de alegria, esperança e felicidade.

Paternidade e maternidade exigem dedicação constante - até certa idade vigilância permanente - o que não devemos confundir com policiamento, punição. Mesmo quando tudo parece estar bem, quando os filhos parecem estar se divertindo, há coisas acontecendo que só podem ser percebidas e sentidas de perto. Observar como os filhos se comportam, entre os outros, além de ser prazeroso, é, também, uma forma de conhecê-los. Há muitas coisas não ditas que podem ser compreendidas num olhar lento, sem pressa Apreciar - ter apreço pelo que o filho faz é, também, uma forma de dizer que o ama. As relações de amor merecem e precisam de investidas diárias, espontâneas, verdadeiras – posto que cheguem de graça e afetem mentes e corações.

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