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Amor urgente e necessário chega de graça,
e entusiasma a alma.

terça-feira, 20 de novembro de 2007


Amores Urgentes


A primeira experiência de satisfação do ser humano é com o seio materno. Aprendemos a amar com aqueles que nos amaram. Amor de mãe é vetor, sem ele caminhamos perdidos. Toda criança precisa se sentir reconhecida por aqueles que a cria, senão é como seguir trilhas sem saber onde tudo começou. Os filhos sempre dirigem à mãe o olhar de agradecimento ou revolta, sempre reivindicam esse amor fundamental, matricial.

O amor é um sentimento universal que não deve sair de moda. Ele rompe fronteiras sociais, étnicas, estrutura o sujeito e viabiliza a construção de uma existência mais bonita e prazerosa. O amor é fundante das relações humanas - seja com o filho, amigo ou aluno. Sem uma transferência afetiva as relações não se desenvolvem e nem avançam.

A crise ética na qual a sociedade brasileira está imersa se explica, em parte, pela ausência de implicação dos pais na educação dos filhos - falta de rigor na transmissão das leis e regras. A humanidade está pagando caro por um modelo de vida que se estrutura na cultura da permissividade e no pensamento operatório, pragmático. Educação de filho demanda tempo, afeto, olhar atento e determinado. Coragem e empenho ao impor limites, cobrar obediência e responsabilidade.

O amor não pode ser preguiçoso, é sentimento que demanda mais que beijinhos e presentes. É relação trabalhosa e exige convivência com trocas e intimidades. Intimidade não se constrói de repente, é continuum - um ir e voltar, ora gostoso, ora difícil. Amor pelas metades não é promessa de muita coisa. A cumplicidade entre pais e filhos requer muita com –versa (pais versando com o filho impressões sobre a vida).

Ao priorizarmos a qualidade do afeto e do amor e não as condições materiais, ao nos orientarmos mais pelo interior e menos pelo exterior - quando a felicidade for sinônimo de relações humanas menos competitivas - aí sim poderemos aspirar à uma vida satisfatória e salutar. Enquanto mães e pais se interessarem mais pelos objetos de consumo e menos pelos enigmas que fundam uma criança, mais esta distanciará de sua matriz identitária - fonte de prazer. O lugar de onde emana desejo e sedução, promessa de laços afetivos consistentes, é parte de nossa gramática amorosa.

A cartografia da sexualidade, paixão pelo existir, entusiasmo pelo criar e coragem para enfrentar dificuldades, inicia-se quando nascemos. Força que pulsa, atravessa a Esfinge e suporta os mistérios formulando uma saída própria. Muito do desinteresse do jovem atual em lutar por um ideal, do tédio e desalento do qual é vítima, advém da forma como sua vida afetiva e sexual foi conduzida.

Um bebê não pode se prestar a objeto de consumo emocional dos pais. Objetos de consumo a gente demanda, filhos a gente deseja, planeja. Nascimento de um filho é coisa séria, epifania, momento épico. Não podemos desacostumar da tradição de reverenciar a vida que se inicia. A banalização da maternidade na sociedade atual assusta. Filho é ser humano que requer cuidados especiais – amor necessário que está se perdendo e que devemos recuperar urgente, senão é como contratar confusão e sofrimento.

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