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e entusiasma a alma.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008


Estudo e entretenimento


A mãe, revoltada com o filho que não está com boas notas, decide pressioná-lo, pois teme uma bomba. Como a escola é particular, ela reforça que gasta muito dinheiro e não dá muita opção, ou ele estuda, ou muda de escola. Mas o garoto não quer mudar, gosta de onde estuda, só que ainda não pegou o jeito de estudar. Como tudo na vida, gostar de estudar envolve vários fatores, e pressionar não é o melhor caminho.

Filho não é investimento, é projeto de vida que além de afeto, cumplicidade e coragem, envolve vários desafios. Atualmente, tornou-se comum os pais computarem o quanto gastam com mensalidades escolares e usam esse argumento para obrigar os filhos a estudar. A dedicação aos estudos é muito importante na vida de uma pessoa - estudar é se envolver com a necessidade de adquirir conhecimento que irá orientá-la numa vida melhor, ajudá-la a conquistar uma profissão e se interessar por ela. Se o filho não está correspondendo aos estudos, o melhor caminho é investigar os motivos que o leva ao descaso pelo mundo dos livros. Será que os pais também são interessados em estudar, pesquisar e conhecer? Será que os lares atuais são um bom ambiente para estudar, se concentrar? Será que o mundo de hoje é um convite ao recolhimento?

A vida moderna combina consumo, shopping, paqueras, internet, orkut, celulares, jogos eletrônicos, TV, Ipod - tudo que desvia a atenção da garotada dos estudos. Vivemos o deslocamento do ser para o ter. Estudar não tem sido um valor apregoado pelo mercado.

Não podemos confundir filho com investimento, garantia de recuperar o dinheiro empregado na educação. Filho deve ser visto muito mais como promessa de bons sentimentos. Como é gente, se relaciona com o outro - diverge, briga, exige, ama e odeia. Sempre sabendo que, no fundo, a aposta que está valendo é a afetiva - o prazer em ajudar uma pessoa a se encontrar e descobrir por onde passa o seu desejo, despertando-a para o mundo.

A sociedade atual expõe as crianças a fortes emoções, incentiva o gosto pela violência. Quando crescem, iniciam-se em esportes radicais, músicas eletrônicas, jogos barulhentos e violentos. A adrenalina tornou-se o alvo quando o assunto é divertimento. E esse é sempre o objetivo da garotada. Se não for divertido, não estuda e não se interessa. Como competir com os meios de comunicação, com a tecnologia? Como conquistar o interesse da moçada se no dia a dia ela vive se entretendo com o mundo das novas tecnologias?

A questão passa mais pela forma como a criança foi acostumada a lidar com as máquinas, que devem ser regulamentadas. O ser humano segue orientações psíquicas, que muitas vezes não seguem o rumo que os pais gostariam. Como seduzir o jovem, convocá-lo ao exercício da reflexão e do pensamento crítico, se a televisão antecipa, facilita e entrega tudo pronto? Eis um desafio aos pais e educadores – como fazê-los se encantar com o ato de estudar. Estudar não é como passear ou praticar esportes. Exige ambiente, dedicação, empenho e perseverança. Muito diferente do que navegar na internet, ou ver um filme no DVD. Uma questão que cabe à família introduzir, junto ao filho, desde cedo, se posicionando e se implicando.

Os pais não devem se deixar contaminar pela ideologia do dinheiro, pela lógica do custo/benefício, onde o importante é recuperar o que se gastou. Viemos ao mundo para tentarmos ser felizes. Se ao longo de nossa trajetória formos bem sucedidos, ótimo. Afinal, o que é sucesso? Se conseguirmos ser reconhecidos no que gostamos de fazer, tanto melhor, mas não podemos condicionar a existência humana pela equação – poder e dinheiro. Cada qual terá que descobrir uma maneira própria de ser. A existência humana requer questões de diversas ordens – singularidades, subjetividades. O bom pai respeita as escolhas do filho, apoiando e acompanhando-o em sua trajetória pela vida.