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terça-feira, 6 de novembro de 2007


Apuros na escola


A tia chegou para pegar a sobrinha na escola e foi surpreendida com a comemoração do dia dos pais. A menina, em apuros, mais que depressa, convidou-a para desempenhar o papel do pai. Nas entrelinhas, pensou: “É verdade, meu pai não convive comigo, mas minha tia cuida de mim”.

Entre tantas situações que a sociedade de hoje nos mete, há uma que chama atenção - o despreparo das escolas em lidar com os novos formatos familiares. O mundo mudou - avançou ou recuou, pirou ou melhorou, não importa aqui julgá-lo, o fato é que grande parte das crianças não é gerada num contexto familiar “certinho e completo” como antigamente. Muitos lares são monoparentais – mães que assumem ter um filho, independente de contar com o apoio do pai da criança, ou o contrário. Há também que se considerar a gama de inovações de grupos domésticos.

Contudo, é de se estranhar que haja escolas que não estejam preparadas para receber as crianças deste encantado mundo hipermoderno. A novidade já é velha, desde muito a liberdade sexual chegou para ficar, e a pílula expandiu raízes - a reprodução desembarca da ciência nos laboratórios in vitro. Não cabe aqui debater se os avanços da tecnociência serão benéficos para a humanidade, se o bebê made in proveta contará com garantias e promessas maiores de sucesso. A questão é convidar as escolas, diante das novas modalidades familiares, a se atualizarem a despeito de fazer alunos “pagarem micos” em eventos démodés.

A criança não pode ficar exposta a critérios equivocados que trazem desconforto. Devemos lembrar que para ela é pesado suportar a ausência do pai - figura que a mitologia consagrou e a psicanálise confirmou em relevância tanto simbólica como real. Contudo, é fundamental sabermos lidar com questões que envolvem o sofrimento diante de situações que expõem faltas, carências e necessidades. Longe de preconceitos, cabe a todos apoiarmos as opções familiares, uma vez que as crianças não podem ficar a mercê de critérios retrógrados, conservadores e moralistas. Que tal as escolas abolirem a comemoração dessas datas substituindo-as por outras formas de confraternizações? Não seria o momento de comemorarmos o dia da nova família, versátil e democrática, quando todos os grupos de convivência doméstica seriam contemplados, tanto nas escolas como nos clubes, que também ainda resistem em adequar suas cotas aos novos formatos familiares? Salvemos as crianças dos preconceitos e constrangimentos, assuntos como esses devem ser tratados com respeito e delicadeza. Essas datas mexem com os açucares da meninada, situações que o mundo moderno inventou a despeito do desejo da criança. Contudo merecem nossa atenção e sensibilidade.

2 comentários:

Murilo disse...

Tenho a experiência de ser pai sozinho desde que meu filho tinha 3 anos e meio. de lá pra cá, muitos erros e acertos, mas, sobretudo, carinho sempre como é até hoje. importante demais esse blog para movimentar o pensamento e o cuidado com nossos filhos e tentarmos entender porque anda tão violento esse mundo, especialmente esse Brasil. o desdém, o egoísmo, a vulgaridade, o desprezo pela cultura e educação: tudo isso são males que detonaram, ao longo dos anos, a sequência evolutiva das nossas urbes. MURILO ANTUNES

Anônimo disse...

Meninas, adorei o blog. Os textos, as ilustrações. Tudo! Parabéns