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terça-feira, 6 de novembro de 2007


Desejo e depressão


A mãe chega ao consultório de psicanálise preocupada e decepcionada com a filha adolescente. A garota não quer comer direito e só belisca bobagem - vive entediada, desolada e preguiçosa. Não se interessa pelos estudos e passa o dia no computador, ao telefone ou trancada no quarto ouvindo música. Depressão ou vagabundice? O que faço? Indaga a mãe num misto de raiva e pena. Para quem criou a filha vislumbrando um futuro de sucesso, o chão abriu-se em cratera.

Pesquisas apontam para um aumento no índice de depressão entre crianças, jovens e adolescentes. Entre os fatores levantados como responsáveis por tal fenômeno, destacamos o sentimento de desamparo provocado pela sociedade atual: globalizada, consumista e competitiva. A existência humana tem se transformado num eterno plano de metas imposto pelo mercado. A criança é desde cedo cobrada e incentivada a se adaptar e adequar-se às exigências da vida moderna. Cada vez mais cedo, é submetida a um ritual de tarefas. Os pais exigem dos filhos, seja na escola, no balé ou no inglês, resultados. Esses, sufocados e sem saber como reagir, sinalizam sintomatizando (sentindo-se mal) - expressando no corpo mal-estar, angústia e tristeza. Muitos desses sintomas estão sendo diagnosticados como depressão. Importa denunciar o descontentamento da criança ou do adolescente com tudo que lhe é imposto – estilos e modismos que não lhes conferem sentido.

É preciso estar atento para não nomear de depressão qualquer sentimento de indolência e falta de entusiasmo. Quando o coração pulsa sem fé, com preguiça, é mais uma falta de crença na vida que o cerca. Devemos repensar o cotidiano dos filhos - valores e cobranças. Quanto mais desrespeitamos os desejos, mais expostos e vulneráveis ficamos às doenças. O bem viver diz do bem amar e do bem fazer. Quando executamos tarefas que gostamos, um mundo de alegria e entusiasmo se abre. E quando nos vemos em atividades que não nos transmitem sentido, somos invadidos por um sentimento de perda – perda de tempo e de identidade.

O desejo humano é do campo do singular, não é passível de ser massificado e explorado como mercadoria. Cabe aos pais lembrarem que cada sujeito é um - cada qual com suas indiosincrasias e subjetividades. Há sentimentos que nos corroem por dentro, aniquilando-nos em nossa essência e subjetividade. Desmotivar é perder o motivo de viver.

A falta de sentido faz parte da lógica do mercado. O sentido de consumir é conferido pelo processo de espetacularização da mercadoria. A função do espetáculo é seduzir e enfeitiçar os consumidores. O feitiço consiste em manipular desejos e escolhas, interesses e vontades.

Lembramos aos pais que o futuro dos filhos é tarefa lenta e trabalhosa, conquista de longo prazo. Tarefa para muitas batalhas travadas na interioridade. As saídas possíveis começam no respeito aos interesses dos filhos, orientando-os e ajudando-os na realização dos sonhos. Momento em que potencializamos as chances deles se darem bem na vida e se tornarem bons profissionais. As escolhas em consonância com os desejos garantem saúde, nos tornam seguros e confiantes - e nos protegem da tristeza. Todo ser humano precisa se sentir reconhecido naquilo que faz. Quanto mais de nós colocamos naquilo que fazemos, mais abrimos portas e ampliamos os caminhos do bem viver. Quanto mais o sujeito acredita em si, mais se fortalece e desmitifica utopias e vence barreiras. Reivindicar reconhecimento é reivindicar identidade, humanidade, felicidade. Sucesso.

Um comentário:

Chart Smart disse...

Nice Blog :)