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e entusiasma a alma.

terça-feira, 6 de novembro de 2007


Perfil: Eliane Dantas



Na minha infância, em Belo Horizonte, dois recantos me fascinavam. O sítio de minha avó com dezenas de árvores frutíferas onde eu podia me fartar com frutas deliciosas, subir em árvores, me encantar com a natureza. E a biblioteca da casa de meus pais, que eu apenas contemplava. As coleções e os clássicos eu olhava mais como obras de arte que objetos de uso. Pareciam-me inalcançáveis. Era como um rio sem ponte e, como atravessá-lo, não sabia. As palavras permaneciam silenciadas.

No ginásio minha redação era um desastre. Envergonhava-me saber que as palavras não deslizavam pelo papel. A dificuldade com o português me levou a ter aulas particulares com uma professora que me fez gostar de gramática. Era o primeiro passo.

Na época de prestar vestibular, quanta indecisão! Havia muitos cursos pelos quais eu tinha curiosidade। Com tanta dúvida, fiz um teste vocacional. O resultado apontou até engenharia, uma vez que era boa em matemática, mas comunicação não era aconselhável. Apesar do resultado, foi o que escolhi. O teste era incapaz de ler o meu desejo.

Entrei para a escola de Comunicação/Publicidade। Mas como os amigos e a cidade me seduziram mais que os livros, peguei o diploma sem me sentir orgulhosa। Paralelamente, trabalhava como palhaça de uma companhia que animava festas। Escondida numa fantasia, ensaiava para enfrentar a vida।

Ao descobrir que esforço constrói muito mais que talento, decidi encarar a realidade com lucidez e superar deficiências। Fui estudar português com uma professora que conhece o verdadeiro sentido da educação: sonhava comigo o meu sonho। Comecei a escrever crônicas। Como dependia dos livros para tirar substrato e tecer minhas composições, descobri a leitura। O olhar que lançava sobre as pessoas, as situações e os lugares mudou, o mundo expandiu। Queria investigar, indagar, compreender.

Ganhei coragem। Morei no Rio e trabalhei nos bastidores da TV Globo, onde entendi como se fabrica mitos। Deixei o emprego para conhecer a Europa। Em Londres, fui empregada de uma família de negros. Cuidava de duas crianças, arrumava a casa e só podia comer depois dos patrões. Vividas algumas experiências, pus uma mochila nas costas e me aventurei pelo continente. De volta ao Brasil, trabalhei com publicidade, eventos, moda, crianças, idosos e até campanha política, quando descobri o mise en scène que alguns políticos fazem para ganhar votos.
Paralelamente, mergulhava nas artes - cinema, teatro, dança – para extrair belezas e lapidar minha formação। Cada espetáculo deixava algo ressonando - fragmentos que aperfeiçoavam meu olhar, meu sentir, meu saber.

Voltei para a faculdade para cursar jornalismo, meu filho Rafael era ainda um bebê। Entre as mamadeiras e as buscas, ganhei outro presente: um velho amigo me convidou para escrever uma coluna semanal no jornal de sua cidade। Semana após semana, tinha oportunidade de me desafiar, aprimorar .

Continuando a caminhada em direção aos meus sonhos, fui trabalhar em uma escola particular como assessora de comunicação। Nesta escola, que é democrática e aposta na autonomia, ganhei liberdade para dizer o que penso, para arriscar, errar e não me envergonhar। Lá entendi para que realmente serve uma escola। Não para afogar o aluno com informações que são descartadas depois da prova, mas para formar gente crítica ए atuante

Envolvida com educação, percebi como as relações humanas me fascinam, como muitos dos problemas pelos quais a sociedade moderna lastima é fruto da negligência dos pais, da falta de afeto, egoísmo e insensibilidade para com o sentimento e as necessidades do outro.
Ávida por expressar minha indignação, falar da beleza que me toca, preocupada com os rumos de um país imerso numa crise ética, movida pela utopia de colaborar para a construção de uma sociedade mais afetiva e respeitosa, me lanço neste projeto. Um espaço para levantar reflexões que atuem como sementes, disseminar palavras que provoquem consciência e possibilidades - alertas na prevenção do sofrimento e dor das crianças e dos jovens. Afinal, o que nos confere sentido é a vida entrelaçada com a família, os amigos e outros amores, numa prática que valoriza o coletivo.

4 comentários:

NeliN disse...

Eliane,
Que bom ter encontrado esse espaço para expandir sua idéias...
A outra coisa gostosa de ver é que há uma firmeza, uma procura, uma coragem...

Unknown disse...

Eliane, Parabéns! Gostei muito!!!

Unknown disse...

Diferença! Foi a primeira palavra que veio em minha mente.
Diferença que encontro nos textos aqui presentes. Textos que devem ser lidos para realmente existirem...
Fico feliz em saber que existem pessoas comprometidas com a sociedade e que agem em busca de um mundo que deixou o ser humano para o último plano.
Mundo carente de sujeitos críticos e atuantes.
Mundo individual carente de singularidade!
Parabéns por fazer a diferença!

Áurea disse...

Parabéns! Você é muito generosa.