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quarta-feira, 17 de março de 2010

A solidariedade é branca

Eliane Dantas
O médico argentino Emiliano trabalha para os Médicos sem Fronteiras, a maior organização internacional e não governamental de ajuda humanitária do mundo. Ela atua em conflitos armados, catástrofes naturais, epidemias, fome e exclusão social. Recentemente, ele esteve de passagem por Belo Horizonte. Sua presença e suas experiências me fizeram querer entender melhor o significado de solidariedade.

Mas, afinal, o que é a solidariedade que o mundo convoca e evoca e tem sido tão usada mercadologicamente? As palavras são elásticas. Os sinônimos são aproximações, portanto é bom investigar os significados para não ficar restrito ao senso comum.

A origem da palavra solidariedade encontra-se no latim, com as palavras solidum (totalidade, soma total, segurança) e solidus (sólido, maciço, inteiro). Na definição do dicionário Aurélio, é “sentimento que leva os homens a se auxiliarem mutuamente”. Uma definição que julgo mais completa é de uma encíclica de João II : “Determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum; ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos”. A solidariedade, portanto, é alternativa ao egoísmo, é responsabilizar-se coletivamente pelo presente e pelo futuro.

Então, voltemos a Emiliano, que está nas missões “não para salvar a vida de alguém, apenas para dar outra oportunidade”. Na sua fala, percebe-se que não há vaidade, ele não se coloca como herói, não cria um mito em cima de si mesmo nem tão pouco da ONG. Pelo contrário, desmitifica o imaginário coletivo. Não nega que ele e os colegas arriscam suas vidas, mas afirma que o risco é menor do que imaginamos porque vários cuidados são tomados para protegê-los.
A atuação de Emiliano é altruísta, mesmo que seja remunerada, e pode se dar na Etiópia, no Peru, na Colômbia, no Paraguai, em Angola. É mais do que caridade e compaixão. É solidariedade larga, não restrita à sua familia, ao seu bairro, ao seu país. É uma demonstração da consciência de sentir-se também responsável pelo mundo e pelo bem-estar das pessoas que o habitam.

Quando melhor entendermos que a ausência da solidariedade é geradora de violência, além de nos vestirmos de branco e soltarmos pombas para pedir paz, nos envolveremos em ações que realmente são transformadoras. Além de participar de protestos para marcar um dia, um crime, um sonho, atuaremos com mais ética, delicadeza, sensibilidade, humanidade todos os dias. Seremos agentes e não expectadores de mudanças.

No mundo há pessoas que são ícones da solidariedade: Ghandi, Mandela, Paulo Freire, Mohamed Yunus. Este fundou o banco Grameen, em Bangladesh, para concessão de microcrédito a pessoas de baixa renda, principalmente mulheres, para financiar atividades produtivas, livrando essas pessoas da dependência de agiotas. Libertou milhões da miséria extrema e resgatou autoestimas. Categórico, afirma que não há paz duradoura com pobreza. Não por acaso, ganhou o prêmio Nobel da Paz em 2006.

Muitos outras pessoas não ganharam fama por seus feitos, mas conquistaram a admiração de pessoas próximas. Podemos nos inspirar em qualquer uma delas e indagar: Sou suficentemente solidário? O que posso fazer para humanizar o mundo? E a mim mesmo? Quem aprende, pode ensinar.

Um comentário:

Balaio da Vivi disse...

Eliane, parabéns pelo texto. Muito importante falar da solidariedade ativa num mundo poluído de boas intenções. Legal informar sobre o trabalho dessas pessoas comuns. Um abraço.