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segunda-feira, 10 de novembro de 2008


PARCERIA TRAIÇOEIRA


Circula na Internet um vídeo da TVE espanhola que merece nossa reflexão. Um garoto está à frente da TV completamente embevecido. Seu cão usa de várias estratégias para conquistar a sua atenção e companhia. O cachorro quer brincar, reivindica carinho e tenta demovê-lo de assistir TV. Vai até o quarto e pega uma coleira, uma bola, um barquinho, faz gracinha, e nada do amigo se sensibilizar. Por fim, frustrado e triste, o cão faz a mala e vai embora na certeza de que perdeu um amigo. E entra a locução: “Há muitas coisas que você pode fazer em lugar de ver tanta televisão. Se seu amigo não quer estar contigo, não será que vê demasiada televisão?”.

Pesquisa do Ibope de 2007 revela que cada brasileiro da classe A e B consumiu 4h40min de TV por dia. Crianças e adolescentes ligaram a TV por 4h50 min, muito mais que em outros países. Já pararam para pensar nos efeitos dessa relação? Durante esse tempo são infindáveis de mensagens que podem ser captadas e assimiladas. Mensagens que incitam a violência, a erotização precoce, que exibem o grotesco. Hábito que afasta as crianças do convívio social e dificulta a formação de laços afetivos.

Quem viciou as crianças a ficar tanto tempo na frente da TV? Os adultos que fazem das TVs babás das crianças? Existe um discurso dos pais de que não há tempo para os amigos nem para os filhos. Mas facilmente entregam o tempo livre à TV conferindo a ela um lugar privilegiado na casa. Não se pode perder o capítulo da novela, mas pode-se deixar para depois uma conversa com o filho, correndo o risco de que o depois se torne o nunca. Troca-se uma prosa, uma brincadeira, um passeio por horas de sofá. E assim ela vai lapidando mentes e corações, forjando subjetividades marcadas por um ideal de vida consumista e superficial.

Criança viciada em TV tem chances de tornar-se um adulto medíocre, pouco criativo e de uma pobreza simbólica considerável. Dificilmente ele gostará de estudar e terá dificuldade de se concentrar na leitura. O hábito excessivo de assistir TV faz muita gente trocar o livro pela tela, aumentando a população que só entende o que ouve, e não entende o que lê – geração “audiovisual” cuja presença intelectual resume-se à audição. É quando o registro psíquico existe para compreender apenas através do som das palavras, comprometendo a compreensão da leitura.

O fato é que a TV tem afastado os pais de seus filhos, as crianças dos amigos. Não se trata de demonizá-la, afinal é um instrumento poderoso de formação, informação e de entretenimento. Mas ela vem se tornando a senhora dos lares. Cada vez maior, bela, potente e sedutora, não resistimos aos seus chamados. Está na sala principal, às vezes, em cada quarto e até na cozinha. Uma mania que a América disseminou entre nós e que sobrevive poderosa, de forma pouco regulamentada, incentivando consumos e modismos, formando cabeças, consolidando uma cultura centrada na visibilidade. Ela vende qualquer coisa, tem poder em transformar bugigangas em ouro. Quando exibida na tela, qualquer mercadoria ganha status de coisa valiosa, fashion, produto cobiçado, fetichizado.

Deve-se ensinar aos filhos que não convém ver TV indiscriminadamente. Muitos pais desistiram de exercer controle e confessam impotência diante do brilho virtual, permitindo que os filhos sejam manipulados e controlados por uma ideologia de mercado fútil e de grande pobreza simbólica. É quando profissionais de comunicação despejam todo tipo de mensagem sobre suas cabeças. No Brasil a TV não respeita idade, os programas infantis veiculam propagandas que manipulam as crianças, o que não acontece em países como Canadá e EUA. Exercer controle não é fácil, mas virar as costas ao problema acaba por aumentá-lo.

O futuro de uma criança corre grande risco quando ela não é educada com disciplina e deveres a serem cumpridos – isso implica em não poder ver TV por muito tempo, tampouco ver qualquer coisa(?????????). E incluímos aqui outras máquinas como computador e jogos eletrônicos. A questão é saber limitar o contato da criança com a tecnologia, objeto que vicia e pode dificultar o processo de socialização. A idéia é fazer um movimento que reverencie a importância do contato humano, que valorize a companhia do outro, principalmente daqueles que são responsáveis pela educação da criança.

Um comentário:

Iêda disse...

Oi Inês,

Vi que você indica o livro "O filho eterno" (Dicas de Livros). Li uma resenha excelente sobre ele no blog http://www.idelberavelar.com/archives/2008/11/cristovao_tezza_o_filho_eterno.php

Abraço,
Iêda