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quarta-feira, 22 de outubro de 2008


Educação e crueldade


É possível nos defendermos da crueldade do mundo? A crueldade existe e não podemos ignorá-la, desacreditar do seu poder destrutivo. Mesmo crianças e jovens são capazes de atos maldosos. Tornou-se comum namorados matarem namoradas, como Lindemberg que matou Eloá com um tiro na cabeça. Sempre há muitas explicações. Perversão, descontrole, falta de limite, incapacidade de suportar frustrações, função paterna frágil? Não dá para negar que atos como esses nos levam a desconfiar da forma como a intolerância tem aumentado entre os jovens. Intolerância ao sofrimento, pouca capacidade de suportar a ausência do outro - perdas afetivas. Geralmente, o homem confunde virilidade com agressividade. Mitologicamente, ele se julga poderoso por portar o significante fálico, o pênis, o que lhe confere uma ilusão de completude. E com isso se julga no direito de agredir, matar o outro que lhe nega algo. Ou se colocar como dono do corpo do outro, demonstrando posse, machismo. Eloá lhe negou amor. Tudo isso pode provocar atos descabidos quando a boa educação fracassa.

Vivemos numa sociedade permissiva que estimula e incentiva atos insanos, aplaudimos e achamos normal a vida sexual precoce. Devemos refletir sobre as conseqüências do excesso de permissividade a que estamos submersos. Quando o desejo corre solto, ele pode circular para o bem ou para o mal. Lindemberg saiu de casa munido de muito ódio e duas armas - determinado a matar aquela que frustrou seu desejo.

Desde sempre crianças ouvem histórias de personagens que representam a maldade: O lobo mau da Chapeuzinho, o lobo dos Três porquinhos, a madrasta da Branca de Neve e muitas outras que deveriam amedrontar as crianças. Como fábula deveria ensinar que a maldade faz parte da condição humana e se manifesta de diversas formas. Toda boa educação deve aguçar no filho um olhar capaz de se defender das contradições do ser humano - quantia certa para se proteger das maledicências do mundo.

Muitos dão sinais de suas maldades. É claro que os perversos escamoteiam suas garras, mas há os que deixam isso claro quando mentem, trapaceiam, dissimulam. Importante é alertar os filhos para ter cuidado quando se envolverem com pessoas excessivamente agressivas, ciumentas, possessivas. Como despertar nos filhos malícia diante daqueles que lhes causam medo, desconforto? Como respeitar a intuição quando o coração pedir cautela antes de entrarem de cabeça nas relações? Como descobrir quando uma pessoa é confiável?

Os pais não podem confundir precocidade com maturidade ou inteligência com esperteza. Uma adolescente que namora como uma mulher adulta assume riscos, e convém aos pais acompanhar de perto os passos do namoro. Pode ser um ótimo encontro, mas pode também não ser. Muitas mulheres, por diversos motivos, acabam se envolvendo com homens violentos e estabelecendo relações destrutivas, submetendo-se às grosserias, mentiras, comportamentos agressivos, posturas sado-masoquistas. Tudo em nome do amor ou uma evidência de baixa auto-estima? A violência virou moda, produto fashion?

Um indivíduo desequilibrado pode demorar para revelar sintomas que evidenciam uma patologia mais séria. Contudo, as crianças e adolescentes precisam ser educadas para ver além dos olhos, refletirem sobre o que sentem em relação ao outro, questionando os atos estranhos dos parceiros, amigos, levando mais a sério os sinais que incomodam e perturbam - não acreditando em tudo que ouvem e sempre observando se a fala do sujeito condiz com suas atitudes.

A ingenuidade só é boa até certa idade. Aos poucos ela deve dar lugar à boa percepção, pois quem não ficar esperto corre o risco de ser assassinado por um lobo mau. A proposta é alertar os pais da necessidade de debater, junto aos filhos, a crueldade do mundo. Por exemplo, como analisar o papel da mídia que, muitas vezes, estimula a maldade e celebra a bandidagem ao dedicar tanto tempo focando episódios como o caso Eloá?

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