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quarta-feira, 2 de julho de 2008


1968 – O ano em que tudo começou


O que teria levado valores como solidariedade, gentileza e respeito ao outro cair em desuso? Por que nos tornamos individualistas e consumistas ao extremo? O que levou à desestruturação familiar? Quando tudo isso começou? Para Jean-Claude Guillebaud, autor de Tirania do prazer, isso começa com a revolução sexual de 1968. O ano em que, na esteira de Wilhelm Reich, o sexo deixa de ser um acontecimento para tornar-se uma obrigação. Todos devem se candidatar ao imperativo do prazer sexual que se tornou a panacéia para todos os males. Para ele, o advento da liberdade sexual vai lutar contra a família, a moral e todas as formas de repressão. Reich atesta a crença no avanço de suas idéias: “A revolução sexual progride e poder algum do mundo poderá deter seu curso”. Contudo, o excesso de permissividade que vive os jovens atuais, o descontrole na forma de viver a sexualidade e a dificuldade dos pais e professores em impor-lhes limites e disciplina, fazem parte das conquistas do maio de 68.

Hoje, desejar uma família estruturada, ansiar por filhos respeitosos e obedientes, que agem dentro dos limites da lei, tornaram-se valores de esquerda. Ser revolucionário hoje é ser disciplinado, ético e solidário. Como reiniciar o retorno à ética e a conceitos como cidadania, público e alteridade? A descrença na política nos fez amantes dos costumes, tendências e modismos, como se somente eles pudessem nos salvar. Atestamos o fim da esperança por um mundo mais humano, igualitário e feliz. Resistimos ao triunfo do neoliberalismo com o direito de usarmos o nosso corpo, explorá-lo - usufruir dele e do corpo do outro como bem desejarmos. Eis a nossa revolta – somos libertários sexuais, mesmo quando não devemos ser. Nossa ética é garantir nosso prazer a qualquer custo.

As grandes matrizes ideológicas caíram por terra, o marxismo cedeu lugar a outras crenças. Longe de combater a luta de classe, agora queremos marcar posição, ganhar espaço, visibilidade. A luta é individual e vale lançar mão de todo tipo de pensamento. De Paulo Coelho à auto-ajuda, a ordem é garantir alguma salvação. A esperança transformou-se num presente sem futuro – o imediatismo comanda e orienta a vida forjada pelo mercado globalizado. Viver tornou-se num plano de metas, frenético e sem sentido. Tempo de desespero!

O jornalista Zuenir Ventura, em “1968 – o que fizemos de nós”, relembra: “Finda a era das certezas ideológicas, vivemos tempos de ambigüidade, do bem convivendo com o mal, do sim com o não, de um futuro em que nada está garantido, nem a existência do planeta”. Cultivamos como herança de 68 um relativismo moral e sexual, o fim das referências culturais e familiares, transformações no campo da estética - a moda deslocou para dietas e academias. A esperança apostada no socialismo desabou no consumismo. Os estudantes de outrora, pós-movimento estudantil, infiltraram-se nos partidos e sindicatos - que hoje ocupam cargos de poder, salários de magnatas.

Mas de tudo isso importa destacar a questão moral - a herança de uma liberdade conquistada que desloca para uma permissividade excessiva. Jovens de 68 tornaram-se pai confundindo educação com repressão. Negligentes e relapsos, não inseriram o filho nos limites da lei. Na confusão, relativisaram tudo, confundindo papel de pai com papel de amigo. A geração dos filhos dos militantes de 68, geralmente, é rebelde às avessas. Hoje, muitas crianças vivem o desajuste - o conflito entre certo e errado, verdade e ficção, bonito e feio, heterossexual e homossexual. Podemos ser melhores. Vamos lutar!

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