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quarta-feira, 2 de julho de 2008


Jovens e violência

O casal de jovens – ela, estudante de arquitetura, ele, de direito –, namorou por alguns anos. Depois de certo tempo, a garota resolve terminar o namoro. O ex-namorado, inconformado, começa a persegui-la. Certo dia, força e consegue entrar no apartamento onde ela mora, ludibria a empregada e vai até o quarto da garota, ameaçando e agredindo-a, embriagado, descontrolado. Os pais da garota procuram os pais do rapaz para uma conversa. O pai do garoto tenta desculpabilizá-lo. Chocada, a mãe da garota tenta entender tal aberração.

Histórias como essa têm se tornado comuns, o que nos obriga a refletir sobre os fatores que têm contribuído para o aumento da violência entre os jovens. Quando essas histórias começam?
Um garoto que foi criado, desde pequeno, demandando e recebendo, chorando e sendo atendido, cresce despreparado e com um imaginário completamente distorcido sobre os códigos da boa convivência. A concepção que formamos da vida é internalizada desde que nascemos. Se a criança sente desejo de algo, ela vai lutar para conseguir. Caso ela consiga sem esforço, ou se nada lhe é negado, como ela vai desenvolver um equilíbrio pulsional - como ela vai aprender a domar pulsões e desejos? A possibilidade de essa criança crescer fora da lei, praticando atos inflacionários, desrespeitando regras e desconhecendo limites, é muito grande.

As famílias modernas, por falta de tempo ou por falta de disposição interna, delegam a terceiros a educação dos filhos. Nessa jogada entra, desde babás, escolas, avós, até televisão e computador. É grande o arsenal de atividades e pessoas que vêm cumprindo com a função paterna e materna. Isso tudo inclui aspectos positivos e negativos. Os negativos correm por conta dos excessos, exageros. Muitos, ainda bebês, iniciam sua trajetória no mundo externo – fora de casa, em berçários, submetendo-se a horários rígidos, longe do aconchego dos pais. Os primeiros anos de vida são fundamentais para a saúde psíquica e emocional da criança. Como conciliar a necessidade de trabalhar fora com a responsabilidade sobre os filhos? Educar exige disposição, implicação, dedicação, tudo que o mundo moderno não estimula, pois sempre nos chega com um compromisso urgente.

Contudo, há cenas, palavras e imagens que registramos ainda bebês, e para delas nos desvencilhar, não será muito simples. Somos as fantasias que criamos com o que vivemos, ouvimos e vimos. Se não aprendemos, desde cedo, aceitar recusas, considerar o desejo do outro, como iremos respeitar a namorada? Saber renunciar ao nosso desejo, saber lidar com frustrações e perdas é uma das coisas mais importantes da vida. Cabe aos pais inserirem o filho nos limites da condição humana. Todo ser humano sofrerá restrições, frustrações. Não existe vida humana em que algo não falte. Freud, em vários textos, nos alertou sobre o desamparo. Faz parte da tragédia humana a sensação de incompletude.

O bom pai é aquele que não poupa o filho dos fracassos e errâncias da vida. Educar demanda coragem e dedicação para, desde pequeno, apresentar ao filho a vida como ela é. Viver exige de nós responsabilidade, compromisso. Coragem para assumir erros e fracassos. O homem, quando toca sua insignificância, humaniza-se. Dignidade, honra e humildade, são valores que não podem sair do cardápio educativo dos filhos. Sem eles o mundo se tornará inviável, inconvivível. A anomia - o caos e a falta de lei não são bons para ninguém. A vida forjada na intolerância e no desrespeito ao outro é um inferno.

A educação de um filho começa bem antes de ele nascer. E requer muita gente! Como diz o provérbio africano: “É preciso um povoado inteiro para educar uma criança”. Há uma função social na educação dos filhos - embora seja responsabilidade dos pais, ela excede aos pais. O individualismo, sem uma moldura ampla de responsabilidades coletivas, é um perigo. Em que cultura educamos nossos filhos? Qual a nossa posição diante dos últimos acontecimentos? A cultura de consumo, individualista, narcisista, que incentiva o sucesso a qualquer custo, não ajuda muito. Pelo contrário, estimula a permissividade. E sabemos que sem coibir é impossível educar!

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