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terça-feira, 3 de junho de 2008


BARBIES E BOTOX


A adolescente chegou para a mãe e perguntou: “Quando eu vou colocar botox”? As meninas de hoje estão crescendo entre mitos que inspiram um ideal de vida, centrado na aparência - beleza plástica e vida sexual precoce. O efeito Barbie nas meninas é da mulher que conquistou sucesso financeiro e afetivo devido a seus atributos físicos, ou seja, por meio de um corpo magro, cabelos longos e loiros - símbolos da mulher bem sucedida e poderosa. A criança cresce acreditando que toda loira é rica, gostosa e cheia de pretendentes. O fetiche da Barbie está nas aquisições físicas e materiais. A ilusão que se vende é de uma felicidade fashion.

A vida idealizada em ícones como Barbie desconstrói a idéia de trabalho – ofício ou profissão que se conquista com muito esforço. Convenhamos, isso é uma grande sacanagem que o mercado, com o beneplácito dos pais, está promovendo entre as meninas. A vida é muito mais que um corpo bonito, seios grandes e bundas arrebitadas. Será que ninguém vai ocupar-se em desmascarar mais esse embuste?

Lembramos que a sedução brota da mente - das fantasias que criamos sobre o mundo e as pessoas. O desejo resulta de um clima de magias que construímos a partir dos significantes paternos e maternos. O que uma garota aspira revela como foi educada - como seu inconsciente foi contaminado. Se a contaminamos apenas com objetos trash, frivolidades, as chances de ela reproduzir esse comportamento pela vida afora são grandes. Contudo, vale o aforismo: “Diga-me em quais valores educas tua filha que direi quem tu és!”

Denunciamos os efeitos da cultura contemporânea na organização psíquica dos indivíduos. Chamamos a atenção de pais e educadores para os impactos que o mercado exerce sobre as garotas (seja por meio da mídia ou da indústria de brinquedos) ao veicular um ideal de vida, centrado no sucesso fácil, conquistado apenas com atributos físicos. Fatores como pressão social por poder, visibilidade, afrouxamento dos laços sociais e familiares acabam por engendrar uma desestabilização do sujeito. Quando as escolhas são narcíseas, dentro de uma significação fetichista, quando o foco se cristaliza no eu, temos a prevalência das chamadas patologias do ato ou patologias narcísicas como: toxicomania, anorexia, bulimia e doenças psicossomáticas. Da intoxicação narcísica à psicofarmacologia, o que testemunhamos é o indivíduo atual fugindo cada vez mais dele mesmo.

O brincar promove o desenvolvimento intelectual e psíquico da criança. A indústria, ao colocar no mercado bonecas como a Barbie, que já vem com tudo pronto – guarda-roupa e cenários completos – diminui na criança a oportunidade de ela própria criar histórias. Educados no mundo cibernético, desprovido do contato afetivo, nos tornamos produção in vitro de um modelo psíquico operatório, normatizado - seres operantes, que agem de forma mecânica, desconectados dos sentimentos. Sensualidade advém, também, da inteligência. Quando a mãe se ocupa em excesso com a aparência da filha, ela acaba transmitindo a idéia de que somente é possível felicidade em um corpo bonito. O verdadeiro tesão brota de mentes e espíritos sofisticados e iluminados. A pior pobreza é a simbólica, contudo, devemos recusar às nossas filhas o lugar da “loira burra”.

Um comentário:

Lunafloreditora disse...

É alentador perceber que estamos produzindo pensamentos sobre o que é uma família melhor, uma escola melhor, uma cidade melhor... uma existência melhor. O que há de melhor em nós deve ser desvendado. Parabéns pelo cuidado com o blog, com as questões, com a vida!