Quem conduz o tempo no amor é o desejo. Para que uma relação amorosa aconteça é necessário que os envolvidos estejam desejosos do amor. O amor, como a vida, requer boa vontade para deslizar, fluir. Amar é escorregar, despencar sentimentos. Aspirar ao amor é preparar a alma para que ele entre e se instale como hóspede esperado, aguardado. Significa colocar-se disponível para uma experiência em construção - que implica paciência, trabalho. Implicar no amor é cuidar, lutar para que a relação se amplie, desenvolva e produza bons momentos. Felicidade a dois, mais que mistério e presente divino, é experiência que exige envolvimento de ambas as partes. Contudo, é muito importante que os interessados no amor tenham tempo para ele, tempo para esperá-lo crescer, amadurecer, acontecer. O amor é como um relógio que pára, anda para trás e depois volta a funcionar. O tempo no amor é um tempo sem tempo, um outro tempo diferente do tempo do trabalho, da produção. Amar é dar corda no relógio (do amor), cujas batidas saem do coração. O amor é lento, preguiçoso - ele vai, volta e segue a lógica da fantasia, que quase sempre é sem lógica.
No filme O amor nos tempos do cólera, Florentino Ariza espera 50 anos para concretizar seu sonho – levar para a cama a bela Fermina Daza – paixão que cultivou durante toda a sua vida. Quando, finalmente, os dois se viram livres e desimpedidos para assumirem o amor ao qual estavam condenados, quando o grande encontro se realiza, o tempo pára, hasteiam-se as bandeiras, o barco desce o rio num percurso diferente, sem paradas. O grande personagem da viagem não era mais a mercadoria - o econômico tornou-se secundário. Se para o capitalismo, tempo é dinheiro, para o amor não há dinheiro que compre o tempo de amar, tempo precioso, guloso – no amor, todo tempo é pouco.
Já o tempo no amor cibernético, amor velocidade, tecnológico, é mínimo. O amor com tempo corrido é amor também mínimo, minguado, nanico, miúdo. Hoje a moda é ficar pouco tempo com o outro, tempo apenas para explorar seu corpo, extrair alguns minutos de prazer. Enquanto Florentino esperava Fermina, ele ficou com várias mulheres, soube viver os prazeres do sexo, mas nada que pudesse comparar com o êxtase da noite em que conduziu Fermina ao leito do amor. Acredito que o feito maior do romance de Gabriel Garcia Márquez, e que Mike Newell transportou para o cinema, foi ter transformado o amor num acontecimento épico, verdadeira epifania. O amor nos tempos do cólera é uma ópera ao amor. Ele deixa de ser um encontro entre duas pessoas para se afirmar como um fundamentalismo afetivo, amoroso - algo que funda o sentido da vida e reforça a crença no humano. Talvez o único fundamentalismo aceitável.
Garcia Márquez homenageou os que reverenciam o amor e que a ele dedicam suas vidas. Sem convicção dificilmente vamos saber o que é o amor, tampouco correr o risco de sermos contaminados por sua magia. Eis um filme que enaltece a sabedoria dos amantes - aqueles que transformam a experiência do amor num plano de metas, numa agenda íntima. Cultivar o orgasmo como metáfora de vida - acreditar nos insights que emergem da alma é mais que arte, é surfar no tempo do coração - e que só faz bem às coronárias.
O Tempo no amor deve ser uma criação entre enamorados, diferente da corrida frenética ao prazer fugaz, amor fast food, que mais machuca que ajuda. Talvez o amor banal dos tempos de agora explica o aumento da depressão entre as garotas. Sem se sentirem desejadas, amadas e reconhecidas, caem no desalento. Pura devastação.
Um comentário:
o tempo e o amor... lindo texto e otimo p reflexão sobre o q é prioridade na vida da gente!!!
adorei o blog!! parabens!!
bjoo
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