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terça-feira, 8 de janeiro de 2008


Humanidade que vem dos livros


Segundo pesquisa internacional sobre “hábito de ler”, o Brasil está entre os países onde menos se lê. Contudo, chamamos a atenção para a importância, de habituarmos os baixinhos na prática da leitura a despeito de tornarmos uma população que só entende o que ouve, e não entende o que lê. Fato que revela que a presença intelectual da geração “audiovisual” resume-se à audição. É quando o registro psíquico existe para compreender apenas através do som das palavras, comprometendo a compreensão da leitura.

O livro conta com vários concorrentes na sociedade multimídia. Tudo em excesso é negativo. O processo de aprendizagem demanda tempo - quando lemos um livro, voltamos às frases, pensamos e digerimos o conteúdo lentamente. O excesso de informação, sem tempo para assimilá-lo, provoca falha cognitiva. Conhecimento é diferente de informação e exige reflexão. Hábito que estamos perdendo. Não existe pensamento sem reflexão e não existe vida inteligente sem o exercício do pensar, elaborar e praticar. Há o tempo de ler, elaborar e concluir, fases que o mundo da tecnologia está desconsiderando.

A leitura pode se transformar em opção profissional. O mundo dos livros é lugar de formação. Muitos que hoje ocupam lugar de destaque em seus trabalhos só o conseguiram por que neles se formaram. Quem lê aprende a falar, escrever e pensar. Os grandes revolucionários da história eram ainda jovens quando resolveram fazer de suas causas, a razão de suas vidas. Juventude era sinônimo de idealismo e utopias alimentadas por um imaginário literário. O cenário atual de leitura é virtual e domina os meios de comunicação que exploram essencialmente a imagem. Quando só o imaginário é provocado, geramos uma pobreza no simbólico, revelando uma dificuldade em interpretar textos e elaborar questões - sintoma comum entre os jovens atuais (analfabetismo funcional).

Jorge Luis Borges em Um ensaio autobiográfico, confessa: “Se me pedissem para nomear o acontecimento mais importante de minha vida, eu citaria a biblioteca de meu pai”. Os jovens não precisam começar pelo brilho transcendente shakesperiano, sabemos que Hamlet e Rei Lear são para poucos, tampouco por Guimarães Rosa, mas por que não insistir com Fernando Sabino, Érico Veríssimo ou Adélia Prado?

A literatura humaniza. As palavras se aproximam mais de pessoas que de coisas. Quem lê sofre menos solidão – se encantando e se apaixonando pelos personagens, expandindo os espaços do afeto e tocando o infinito da existência. E descobrindo legiões em si mesmas. O mundo das artes nos reserva surpresas. Entre metáforas, rompemos com a crônica do dia, nua e crua. A sabedoria transcende a objetividade do mundo real e exige consistência interior. A vida das cidades grandes é pouco romântica, falta-lhe entusiasmo. O asfalto tende a endurecer as pessoas, tirando delas a substância poética, secando-lhes as chamas da invenção. Como atesta Rousseau: “Compreendo como os habitantes das cidades têm pouca fé; eles só vêem muros, ruas e crimes”.

Sabemos que há várias saídas para o desamparo globalizado que nos atormenta. A filosofia, como a literatura, podem nos ajudar a povoar a alma. O filósofo, em sua paixão incendiária pela transcendência do mundo, consola o coração e serve de guia para a ação. A ausência de vida interior revela desorientação. Que tal incluirmos nos roteiros familiares passeios pelas livrarias? O homem contemporâneo, como o da caverna, contaminou-se numa visão distorcida, fragmentada e empobrecida da existência humana. A sociedade atual, do alto de seu avanço tecnológico, corre o risco de cair num vazio simbólico. E a juventude é o segmento que mais sofre com isso.

Gilberto Dimenstein informou que, em Bogotá, jovens, ex-integrantes do narcotráfico, guerrilheiros e paramilitares, hoje recuperados e recolocados na sociedade como agentes comunitários, trabalham oferecendo nos sinais informação turística. Alguns portam livros debaixo do braço e oferecem gratuitamente aos cidadãos. O projeto inclui uma biblioteca ambulante “Livros ao vento”. A Colômbia oferece literatura no lugar da arma e da droga. Humanizou-se!

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