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quinta-feira, 17 de junho de 2010

QUAL O VALOR DO CONHECIMENTO?

Eliane Dantas

“Fixe o pensamento apenas nos escritos, pois já vi pessoas serem salvas por seu trabalho. Entenda, não há nada mais genial que os escritos. São como um barco sobre a água. Deixe-me fazê-lo amar a escrita mais que a sua mãe. Permita-me introduzir sua beleza a seus olhos, pois ela é mais importante que qualquer outro trabalho. Não há o que se compare em todo o mundo”. Esta fala ocorreu 4 mil anos atrás, entre o burocrata egípcio Dua-Queti e seu filho quando navegavam pelo Nilo em direção a uma escola de escribas, segundo o livro A História da Leitura, de Steven Roger Fischer.

Antes que mães e pais fiquem bravos e desistam de continuar esta leitura, não quero entrar na discussão sobre amar a palavra mais do que a uma mãe. O que disse o burocrata pode ter sido uma força de expressão. De todo modo, é importante lembrar que, naquela época, a comunicação se dava principalmente pela oralidade, a escrita era privilégio de poucos, principalmente dos homens, e era um fator que definia poder e status.

O que me interessa na fala daquele burocrata é a oportunidade de pensarmos na relação das pessoas com o conhecimento. Até que ponto seriam as falas e ações de adultos também responsáveis pelo desinteresse de crianças e jovens pelo saber? De que forma pais definem escola para seus filhos? O que esperam dela?

É bom lembrarmos que escola existe para o indivíduo aprender a servir-se de seu próprio intelecto, colocar à prova seu pensamento, construir a liberdade que vem com o conhecimento. Quanto mais conhecemos, mais livres somos, mais agiremos por escolhas e não porque os “oráculos da verdade” – que podem ser um professor, um pastor, um governante, um militar – nos dizem o que fazer. A multidão que não pensa, alerta Kant, fica como animais domésticos confinados em seus currais com medo dos riscos do caminhar. “Mas ao preço de alguma queda, o indivíduo pode aprender a caminhar”, alerta o filósofo.

O fato é que, no Brasil, o conhecimento não está entre os artigos de primeira necessidade. A média de leitura dos brasileiros é de dois livros por ano, sintoma de quem não quer sair da menoridade (termo cunhado por Kant), ou seja, pensar por si próprio.

Na história do Brasil, o conhecimento jamais foi considerado prioridade. A primeira universidade do país só chegou com Dom João VI. Na Europa, séculos antes. Nos EUA, ainda no século XVII. É comum ouvir que tal sujeito pode ficar tranqüilo porque tem QI, ou seja, “quem indica”. Se preferirem rude clareza, tem pistolão! E onde fica o mérito? Aqui, muitas vezes, prevalece a lei de Gerson, que prega como desejável “levar vantagem em tudo, certo?”. Então para que estudar? Também se pode traçar um caminho mais curto, ir à Europa e tomar um banho de cultura! Não é assim que alguns pensam que irão conquistar conhecimento?

A socióloga Silvana Seabra, falando de sua experiência como professora nos EUA, diz nunca ter sido tão respeitada. Caso o aluno não fosse à aula, mandava email justificando a falta e pedindo desculpas. Em Belo Horizonte, um aluno agrediu uma professora e foi ela quem mudou de escola.
Então, o que podemos fazer para colocar o conhecimento no lugar de importância que ele merece e precisa? Os desafios são muitos, a resposta não é única, a trajetória é longa. Mas todos temos de buscar esse caminho ou a escola não encontrará o sentido que precisa. O discurso público e privado da “escola de qualidade” passa necessariamente pela reverência ao conhecimento.

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