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terça-feira, 8 de outubro de 2013

ADEUS AO PAI

Inez Lemos

Lázaro, nome suspeito, evoca sacrifício, dor, castigo. Papai desafiou os desígnios bíblicos, fazendo do nome o seu contrário. Reverenciou, ao longo da vida, a liberdade, o despojamento, a simplicidade e a alegria. Alma ingênua, não habitada pela maldade. Apressado, corria para tudo, era a própria pulsão. Talvez fosse marcado por uma urgência da qual não sabia. Nunca sabemos direito o que nos movem, mas papai era movido pela boa ação. Em cada canto que teve fazenda, adotava um. Muitos empregados tornaram-se agregados - quando iam trabalhar com ele, de lá não queriam mais sair. Um Pai avançado, nada moralista. Sua moral era liberdade com responsabilidade. Educou os filhos na autonomia, ensinando, desde cedo, que cada um deveria aprender a cuidar de si. Avesso a fofocas, um dia, diante de uma, me chamou e disse: “Minha filha, os passarinhos estão cantando além do que deviam. Portanto, saiba cuidar de tua vida, se você fizer alguma besteira, o azar é teu”.

Sua vida resumia em: fazenda, família, igreja, jornal, cervejinha (engolida de uma só vez), um cigarrinho (escondido de mamãe), o Corintias e, claro, Truco!!!!!!!!!!
Não soube ganhar dinheiro, sua riqueza era a alegria - Sempre. Nunca reclamava de nada. Coração largo, bolso solto - principalmente para os de fora. Longe da aparência, nos ensinou a essência. Logo cedo, descobri que com ele não havia chance. Moleza é rosca que não tem osso. E a vida, luta a ser travada por si só. O desafio estava lançado. A existência como estrada - uma caminhada inventada e reinventada diariamente. Contar com as próprias forças, os próprios recursos. Imprimir a tua marca, não fugir da peleja de se saber só. Não envergonhar da tua singularidade. A felicidade é um conceito, construa a tua. 


Homem do sertão, da botina e do embornal. Avesso a modismos, aos filhos restava enquadrar na vida autêntica que lhes oferecia. Não queria ser exemplo para ninguém. Cada qual deveria cultuar a própria alma. Lugar onde habita o melhor de nós, os valores que escolhemos – o que queremos deixar e como queremos ser lembrados. “O que eu adorei em ti, foi a vida que me deste. Sem cobrar nada. Uma vida cunhada na LIBERDADE. 

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