Inez Lemos
Lázaro, nome
suspeito, evoca sacrifício, dor, castigo. Papai desafiou os desígnios bíblicos,
fazendo do nome o seu contrário. Reverenciou, ao longo da vida, a liberdade, o
despojamento, a simplicidade e a alegria. Alma ingênua, não habitada pela
maldade. Apressado, corria para tudo, era a própria pulsão. Talvez fosse
marcado por uma urgência da qual não sabia. Nunca sabemos direito o que nos
movem, mas papai era movido pela boa ação. Em cada canto que teve fazenda,
adotava um. Muitos empregados tornaram-se agregados - quando iam trabalhar com
ele, de lá não queriam mais sair. Um Pai avançado, nada moralista. Sua moral
era liberdade com responsabilidade. Educou os filhos na autonomia, ensinando,
desde cedo, que cada um deveria aprender a cuidar de si. Avesso a fofocas, um
dia, diante de uma, me chamou e disse: “Minha filha, os passarinhos estão
cantando além do que deviam. Portanto, saiba cuidar de tua vida, se você fizer alguma
besteira, o azar é teu”.
Sua vida resumia
em: fazenda, família, igreja, jornal, cervejinha (engolida de uma só vez), um
cigarrinho (escondido de mamãe), o Corintias e, claro, Truco!!!!!!!!!!
Não soube ganhar
dinheiro, sua riqueza era a alegria - Sempre. Nunca reclamava de nada. Coração
largo, bolso solto - principalmente para os de fora. Longe da aparência, nos
ensinou a essência. Logo cedo, descobri que com ele não havia chance. Moleza é rosca
que não tem osso. E a vida, luta a ser travada por si só. O desafio estava
lançado. A existência como estrada - uma caminhada inventada e reinventada
diariamente. Contar com as próprias forças, os próprios recursos. Imprimir a
tua marca, não fugir da peleja de se saber só. Não envergonhar da tua
singularidade. A felicidade é um conceito, construa a tua.
Homem do sertão,
da botina e do embornal. Avesso a modismos, aos filhos restava enquadrar na
vida autêntica que lhes oferecia. Não queria ser exemplo para ninguém. Cada
qual deveria cultuar a própria alma. Lugar onde habita o melhor de nós, os
valores que escolhemos – o que queremos deixar e como queremos ser lembrados. “O
que eu adorei em ti, foi a vida que me deste. Sem cobrar nada. Uma vida cunhada
na LIBERDADE.
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